Descrição
Uma casa de família esvazia com o passar do tempo. Tudo vai sobrando. O gerúndio é o crescimento em movimento. Sobram pratos, roupas de cama, divisões e silêncio demorados. As memórias assentam praça nos lugares mais recônditos do corpo. Um casal partilhando a vida em conjunto há cerca de setenta anos, para combater a ausência que os transtorna, multiplica as recordações na janela da marquise onde passam muitas horas sentados enfrentando o vazio que os assola. Como a Lenda da cidade de Beja, em que um touro foi envenenado para combater uma cobra monstruosa, assim se transverte a vida. O medo transforma-se em superstição, a ausência em recordação.
O rumo que cada um segue é um percurso feito de sonho, sentimento, desilusão e paixão. Ver partir é contrabalançar o desenrolar da existência com as angústias do coração mãe e do coração pai.
Neste estrançar de histórias colectivas caminhadas individualmente, é no afecto que permanece a palavra família. Envelhecemos par dar sentido ao estendal despido de roupa, à porta da rua que pouco se abre, às palavras que ficaram por dizer e aos abraços que ficaram por abraçar.
É nos regressos que a solidão esmorece e o amanhã não tem medo de existir.
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