Descrição
E se um PIDE, agora atacado pela Alzheimer e pela demência, volta que não volta, começar a regressar ao passado?
E se esse PIDE viver no anexo da casa do filho com quem não fala desde o 25 de Abril, altura em que o rapaz soube qual era na realidade a profissão do pai, e ainda por cima tenha sido ele a prender e torturar a estudante com quem o filho muitos anos depois se casou?
Ficção completamente fora da realidade? Bom… Um PIDE, muitos anos depois, ir bater à porta de um homem que ajudou a torturar, para lhe pedir perdão, também só em ficção, não é verdade?! Só que a realidade está sempre a ultrapassar a ficção.
Um dia fui, com o Paco Bandeira e o meu filho João, almoçar com o Edmundo Pedro. Estava satisfeito por ter a oportunidade de apresentar o único Tarrafalista ainda vivo ao meu filho adolescente, para que ele ouvisse de viva voz o que tinha sido a ditadura do Estado Novo. Mas nesse dia o Edmundo contou-nos uma história singular. Na véspera de Natal – portanto noite da consoada – alguém bateu à porta da casa do Edmundo. Era um senhor já de idade e que ele não reconheceu. Depois o senhor explicou quem era. Tinha sido um dos PIDES que tinha participado na sua prisão muitos anos antes, e ali estava, arrependido, muito arrependido, para lhe pedir pessoalmente perdão. O Edmundo era realmente um ser humano diferente, e mandou o senhor entrar. Querem maior perdão do que isto? Receber o PIDE na sua própria casa?! A partir desse dia, todos os anos, na véspera de Natal, se visitavam. O Edmundo Pedro, entre muitas coisas que nos ensinou, também nos ensina que podemos perdoar sem esquecer.
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