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Fernando Alves

Fernando Alves, 69 anos, nasceu em Lisboa, fez-se gente em Benguela. Lá, na cidade de acácias e de poetas, havia uma rádio, perto do mar. Muitas vezes, ainda rapaz, ele ficava a segurar com os cotovelos, em frequência imoderada, o feitiço de um ofício como não há outro. O espanto da rádio chegou-lhe através dos mágicos, os sonoplastas. Ninguém se lhes compara na grande tribo. Eles acendem a luz que corre por dentro das vozes. Aprendeu com eles alguns segredos que não vêm nos manuais. Que a voz é táctil, que a curiosidade do mundo é a grande academia. O esplendor das coisas simples, a disponibilidade para a surpresa e para a pergunta.

Por isso, quis ser da rádio, desde muito cedo. E mais não quis.

Deixou pegadas impressivas em algumas dessas poucas rádios por onde passou. “O Búzio Ardente”, na RDP (onde esteve 13 anos). “O postigo da noite”, “Os dias andados”, “Onde nos levam os caminhos”, “A Espantosa Realidade das Coisas” (com Paulo Pedroso e Rita Figueiras) e os “Sinais”, a crónica que manteve durante mais de trinta anos, na TSF.

Não é que se tenha cansado da Rádio: em Setembro, amadureceu nele uma amargura crescente e accionou o processo de reforma. Gosta que lhe perguntem como surgiam, em cada manhã, os primeiros sinais de uma história que ele escrevia contra o tempo. Porque isso permite-lhe regressar, outra vez e sempre, ao espanto inicial. À pergunta cuja resposta pede, ainda, outra pergunta.

Na verdade, “reformou-se” é uma maneira de dizer.

Fernando Alves

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